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Opinião
Educação Ambiental: Ensinar sem Acreditar
Não resisti em levantar poeira, em aguçar alguns sentidos… com isso pretendo levar-nos a reflectir um pouco sobre um assunto que é, há muito, bastante mediatizado – a Educação Ambiental. Ao que parece e, infelizmente para todos nós, o facto de ser um assunto que vai estando “na moda”, não lhe retira a polémica que o assombra. Polémica, mas porquê polémica?

Todos nós sabemos reconhecer a importância da Educação Ambiental no ensino das ciências. Possivelmente até saberemos qual a sua definição, quando terá surgido e as razões do seu aparecimento. Muitos até já fizeram acções de formação para obter os tão almejados créditos e subir de escalão.

Mas não quero focar aqui nenhum desses pontos, quero apenas analisar uma situação muito básica, que se prende com o simples observar da realidade dos jovens que nos rodeiam. E que realidade é essa? Após uma análise directa, “no terreno”, dessa realidade, verifico que muitos, para não tornar a situação pessimista e dizer, se não a maioria, dos nossos jovens e crianças, não tem consciência nem sensibilidade para as grandes questões ambientais do nosso Planeta! Poderemos então tentar responder à questão: porque razão, apesar de todo o folclore que tem sido associado à Educação Ambiental, continuamos a formar crianças e jovens sem essa consciência ambiental? É aqui que entramos na parte polémica da Educação Ambiental.

Para quem já começou a procurar argumentos para rebater esta afirmação, concordo que sim, também é verdade que as estatísticas referem repetidamente que os jovens de hoje têm uma consciência ecológica mais desenvolvida, que estão mais sensibilizados para as questões do ambiente. Mas, e se aprofundássemos um pouco mais, se estudássemos os hábitos e práticas ambientais desses jovens, será que os resultados que obteríamos seriam compatíveis com essa suposta consciência ecológica mais desenvolvida? Afinal, as condições ambientais do planeta não estão a melhorar (infelizmente)...

No intuito de satisfazer a minha curiosidade neste âmbito, propus-me de há uns anos lectivos a esta parte, usar os meus alunos como amostra para um questionário específico deste âmbito. Nesses questionários, os alunos ainda vão sendo honestos, reconhecem que as inúmeras e variadas tentativas de sensibilização lhes têm passado ao lado, que apesar de tudo, os seus hábitos vivenciais “anti-ambiente” prevalecem. Triste não é? Como pode isto ser possível se agora a EA está instituída em todas as disciplinas? Para tentar compreender melhor a situação e o papel que lhe está a ser actualmente atribuído no ensino, especificamente, das ciências, foi realizado um mini-estudo, envolvendo a classe docente, relativamente a esta questão. Este estudo tinha por objectivo analisar, ao nível da classe de professores de Ciências Naturais, como eram tratadas, por estes, algumas questões ambientais básicas.

Foi realizado um questionário, de resposta aberta a um grupo de 30 do 11º Grupo B, distribuídos por diferentes escolas da grande metrópole.

O objectivo do questionário não era saber se conheciam a definição de EA, quais os seus objectivos, etc., mas saber, por exemplo, se já tinham tirado algum curso, se costumavam abordar EA nas suas aulas e, principalmente, quais as suas próprias práticas e atitudes face a determinadas questões ambientais básicas mas fundamentais para a manutenção do equilíbrio do nosso planeta, entre as quais se destacam: separação de lixos, reciclagem, utilização de papel reciclado, tipo de detergentes utilizados, cuidados em termos de consumo de água, etc.

Poder-se-á questionar a legitimidade deste estudo, combatê-lo afirmando que a amostra foi pouco significativa, e por infortúnio das probabilidades me tenha calhado a amostra mais aquém do perfil ideal, mas pelo menos deu para pensar.

Os resultados foram, de facto, desapontantes, tristes, para quem tem uma verdadeira consciência ambiental e considera o ensino como uma via essencial para a edificação dessa consciência.

Todos nós concordamos que a EA é essencial nas disciplinas que um professor do 11º Grupo B lecciona. Mas, quem são os professores que ensinam essa EA? Como é ela transmitida? Como moda, ou como interiorização de uma necessidade inerente à responsabilidade cívica de cada cidadão? E de que modo contribuímos para concretizar tão elevado desígnio? O que se verifica e, infelizmente, não apenas neste caso, é que vivemos ainda na política do “faz o que eu digo e não faças o que eu faço”, o que não é, de todo, aceitável numa questão que se prende actualmente com a nossa própria sobrevivência.

As consequências de uma má gestão ambiental ao nível do planeta, envolvem-nos a todos e ninguém, absolutamente ninguém, se poderá eximir dessa responsabilidade. No caso dos professores, essa responsabilidade é a duplicar, em relação a si mesmos e à educação dos outros, da população do futuro. Só trabalhando de forma mais afincada com os mais jovens poderemos desenvolver uma nova humanidade, que seja melhor que a nossa no tratamento e respeito pelo Planeta.

Se essa essência não está interiorizada em nós, que temos uma grande responsabilidade na sua transmissão, então continuamos a limitar o seu ensino. E quem pode sentir a consciência tranquila por limitar o ensino de um tema tão crucial para a sobrevivência da própria espécie humana, e de outras nossas contemporâneas? Como é possível ensinar algo em que não se acredita? Quem consegue ensinar valores que não cumpre ou negligencia?

A conclusão final é esta, a maioria dos professores sabe o que é, e fala de EA. Mas, que EA? Poderemos nós, em consciência, aspirar a um mundo ecologicamente melhor se não soubermos, ou quisermos, a nós mesmos, volver-nos melhores? Estaremos nós a cumprir os objectivos da EA? Será desejável continuarmos a seguir modelos de ensino que não contemplem, de uma forma positiva, estrutural e significativa, um verdadeiro plano de Educação para o Ambiente?

Existe uma grande diferença entre conhecer os objectivos da EA, e fomentar essa EA, i.e., promover realmente esses objectivos, instituindo-os na nossa própria vida, nas nossas acções e práticas quotidianas.

Somente se conseguirmos interiorizar em nós próprios, o amor pelo ambiente, poderemos esperar que esse amor gere focos de propagação que atinjam os nossos alunos. A verdadeira EA só pode brotar do nosso íntimo e associar-se, progressivamente, a uma reforma construtiva do seu ensino. Só assim poderemos ajudar cada ser humano a organizar-se e a consciencializar-se para o papel que lhe cabe na protecção e preservação do nosso planeta. Só um ser sensibilizado pode ser capaz de sensibilizar os outros e, não podemos esquecer que as crianças veêm em nós um espelho daquilo que querem ser. Agora analise a sua própria imagem…

Teresa Loureiro
Professora e sócia da Quercus
QUERCUS Ambiente n.º 16 (Outubro 2005)
 
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