Energias alternativas: Pelamis vai flutuar em Portugal
Parece uma cobra gigante e vermelha ondulando ao sabor das águas. Mas na verdade o dispositivo que vai ser instalado em breve ao largo da costa portuguesa é um sistema de conversão da energia das ondas, conhecido como Pelamis. Esta é uma das mais avançadas tecnologias de aproveitamento desta energia, que vai ser instalada em Portugal, depois de ter sido experimentada pela primeira vez na Escócia.
Ao todo, vão ser colocados em águas portuguesas três sistemas, o primeiro dos quais deverá ser instalado ainda este ano, na Póvoa do Varzim. O último deverá sair para o mar na Primavera de 2006. A Ocean Power Delivery lançou este ano o concurso para construção dos equipamentos, no valor de oito milhões de euros, que ficou a cargo de um consórcio português, liderado pela Enersis, uma das maiores empresas no mercado nacional das energias renováveis.
Para António Sarmento, responsável pelo Centro de Energia das Ondas, organismo português que promove e estuda esta forma de energia, este sistema, o primeiro parque comercial do mundo, representa mais um avanço que mais uma vez é protagonizado por Portugal. “O Pelamis apenas tinha sido testado na Escócia, para se poder avaliar alguns aspectos, nomeadamente o seu impacte ambiental”, observa.
Recorde-se que foi também na Póvoa do Varzim que uma empresa holandesa decidiu instalar uma central piloto AWS (ver caixa). “A empresa está agora a trabalhar num sistema mais compacto, sem plataforma, que poderá ser uma central definitiva e vir a ser instalado em Portugal em 2007”, adianta o especialista do Instituto Superior Técnico (IST).
Portugal tem estado na vanguarda da investigação e experimentação destas tecnologias. Além destes dois sistemas, existe também, desde 2001, uma central-piloto costeira na ilha do Pico, nos Açores. Fazendo uso da tecnologia de Coluna de Ar Oscilante (CAO), esta unidade deparou-se com alguns problemas técnicos ao longo dos anos, mas já foi recuperada e vai funcionar como central de demonstração.
“Espera-se recolher daqui informações que contribuam para um novo projecto: a construção de um aproveitamento de energia das ondas nos molhes da foz do Douro”, adianta António Sarmento. Há ainda um projecto para a instalação de uma unidade piloto na Figueira da Foz. Estes dois últimos têm o envolvimento da EDP, e no caso da foz do Douro, também do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos.
A fase inicial do Pelamis consiste num conjunto de três sistemas, cada um de 750 KW de potência instalada, que vão ficar a cinco quilómetros de distância da costa. As “cobras” gigantes terão, no total, capacidade para gerar 2,25 MW de electricidade para a rede, o que corresponde aos gastos de 1500 habitações em Portugal, o que equivaleria a emitir menos 6 mil toneladas por ano de dióxido de carbono (CO2). Se as coisas correrem bem, a segunda fase do projecto envolverá a instalação de mais 30 sistemas Pelamis de 20 MW.
Curiosamente, a tecnologia das ondas não é das mais referidas quando se fala em energias renováveis, mas Portugal é um dos países do mundo com maior potencial para o aproveitamento deste recurso. O país tem uma potência média de 40 KW por metro de costa, quando os valores mais elevados no continente europeu estão nos 70 KW (caso do Reino Unido), de acordo com um relatório da Rede Europeia da Energia das Ondas (actual Acção Coordenada em Energia dos Oceanos).
A Ocean Power Delivery acredita que o mercado português de energia das ondas possa gerar até mil milhões de euros durante a próxima década. A Enersis trabalha há 17 anos na área das renováveis, nos sectores da eólica e mini-hídrica, e aposta agora também na energia das ondas.
A próxima Conferência Europeia de Energia das Ondas e das Marés vai ser realizada em Portugal, em Setembro de 2007, e vai ser presidida por António Falcão, do Instituto Superior Técnico, instituição que organiza o evento com o INETI e o Centro de Energia das Ondas. O anúncio foi feito no final da 6ª conferência europeia, em Glasgow, na Escócia, de 30 de Agosto a 1 de Setembro de 2005. Em comunicado, o Centro de Energia das Ondas frisa que “Portugal teve uma participação de grande relevo: dos 14 membros do comité científico 2 são portugueses, das 87 comunicações apresentadas 14 tiveram participação portuguesa, das 11 sessões técnicas 3 foram presididas por portugueses”.
Portugal fez-se representar com 11 delegados de 5 instituições (Instituto Superior Técnico, INETI, Centro de Energia das Ondas, EDP e Martifer Energia). O Centro de Energia das Ondas, criado em Março de 2003, é uma associação sem fins lucrativos à qual estão associadas dez empresas e três instituições de investigação, e que tem por objectivo promover o desenvolvimento e a comercialização da energia das ondas em Portugal.
Coluna de Ar Oscilante (CAO) – é uma central instalada na linha de costa, formada por uma estrutura em betão. A base é aberta e está em contacto directo com a água. A entrada de água na central, impulsionada pelo movimento das ondas, provoca um aumento da pressão do ar, que por sua vez acciona uma turbina. Na Europa, os sistemas CAO mais importantes são a central do Pico e a central LIMPET, instalada na ilha de Islay, na Escócia. É um sistema costeiro, “shoreline”. www.wave-energy-centre.org
Archimedes Wave Swing (AWS) – uma central que é instalada no fundo do mar, a altas profundidades, em “offshore”. As alterações de pressão provocadas pelo movimento das ondas fazem mover uma estrutura em forma de êmbolo. O projecto-piloto deste sistema foi concebido por uma empresa holandesa, a Teamworks Technology, e está instalado na Póvoa do Varzim. http://www.waveswing.com
Pelamis – uma “cobra” flutuante, articulada, que gera electricidade ao mover-se “ao sabor” das ondas. É o investimento mais recente em tecnologia de conversores para energia das ondas em Portugal e poderá ser o primeiro de carácter comercial. Um sistema “offshore” flutuante. http://www.oceanpd.com